ANATOMIA DAS GÔNADAS

1. ANATOMIA DAS GÔNADAS MASCULINAS

1.1 Sistema Genital Masculino

Os órgãos do sistema genital masculino são: os testículos (gônadas masculinas), que produzem os espermatozóides e hormônios; os ductos, que armazenam ou transportam os espermatozóides para o exterior; as glândulas sexuais acessórias, que secretam o sêmen; e as várias estruturas de suporte, incluindo o pênis (Figura1).

1.2 Escroto

O escroto (scrotum saco) é uma bolsa que suporta os testículos; consistem de pele frouxa, fáscia superficial e musculatura lisa (Figura2).Internamente, ele está dividido por um septo, em dois sacos, cada um contendo um único testículo.

A localização do escroto e a contração das suas fibras musculares regulam a temperatura dos testículos. Como o escroto se localiza fora das cavidades corporais, ele proporciona um ambiente por volta de 30C abaixo da temperatura corporal.

1.3 Testículos

Os testículos, ou testes (testi é o singular), são um par de glândulas ovais que se desenvolvem na parede abdominal posterior do embrião, e, geralmente, iniciam sua descida ao escroto durante o 1º mês do desenvolvimento fetal. Quando os testículos não descem, a condição é descrita como criptorquidismo.

Os testículos são cobertos por uma densa cápsula fibrosa branca que se extende para o interior, dividindo cada testículo em compartimentos internos chamados lóbulos (Figura 3).

Os túbulos seminíferos são revestidos com as células espermatogênicas (formadoras de espermatozóides) em vários estágios de desenvolvimento (Figura 4). As células espermatogênicas mais imaturas, chamadas de espermatogônias (gonium geração, prole), se posicionam contra a membrana basal em direção a superfície dos túbulos.Os espermatócitos primários, os espermatócitos secundários, as espermátides e os espermatozóides. Logo antes de atingir a maturidade completa, o espermatozóide é liberado no lúmen do túbulo e inicia seu movimento através de uma série de ductos.

Entre os espermatozóides em desenvolvimento nos túbulos estão as células de Sertoli ou de sustentação. Estas células suportam, protegem e nutrem as células espermatogênicas em desenvolvimento; fagocitam células espermatogênicas degeneradas; e secretam o hormônio inibido que auxilia na regulação da produção de espermatozóides pela inibição da secreção de hormônio folículo-estimulante (FSH). Entre os túbulos seminíferos estão grupos de células intersticiais de Leydig (endocrinócitos intersticiais). Estas células secretam o hormônio masculinas testosterona, que é o mais importante andrógeno (uma substância que controla o desenvolvimento das características masculinas).

1.4 Espermatogênese

O processo pelo qual os túbulos seminíferos dos testículos produzem os espermatozóides é chamado de espermatogênese. Ela consiste de três estágios: a divisão reducional (meiose 1), a divisão equatorial (meiose II) e a espermiogênese.

Estágios da espermatogênese: A espermatogênese inicia-se durante a puberdade e continua durante a vida. Ele leva aproximadamente 74 dias para se completar. As espermatogônias ou células-tronco espermáticas (Figura 5) que se alinham nos túbulos seminíferos contêm o complemento cromossômico diplóide (46).

1.5 Espermatozóide

Os espermatozóides são produzidos a uma taxa de aproximadamente 300 milhões por dia, e, uma vez ejaculados, têm uma expectativa de vida de aproximadamente 48 horas no trato reprodutor feminino. Um espermatozóide é composto por uma cabeça, uma peça intermediária e uma cauda (Figura 6). Na cabeça está o material nuclear e um grânulo denso chamado acrosoma (acro= acima), que contém enzimas que auxiliam o espermatozóide a penetrar o ovócito secundário. As mitocôndrias, na peça intermediária do espermatozóide, sustentam o metabolismo que fornece energia para a locomoção. A cauda, que é um flagelo típico, propele o espermatozóide.

1.6 Ductos do Testículo

Seguindo sua produção, os espermatozóides movem-se ao longo dos túbulos seminíferos contorcidos até os túbulos seminíferos retos (Figura 7). Os túbulos seminíferos retos levam a uma série de ductos nos testículos chamados de rede do testículo. Algumas das células de revestimento da rede do testículo possuem cílios, que auxiliam na movimentação dos espermatozóides. Os espermatozóides são, então, transportados para fora dos testículos e para dentro do epidídimo (Figura 8).

1.7 Epidídimo

O epidídimo (epi = acima; didymos = testículos) é um órgão em forma de vírgula, que se aloja ao longo da margem posterior dos testículos, e consiste, principalmente, de um tubo fortemente espiralado, chamado de ducto epididimal. O ducto do epidídimo é o local da maturação dos espermatozóides. Durante um período de 10 a 14 dias, sua mobilidade aumenta. O ducto do epidídimo também armazena os espermatozóides por até um mês ou mais; após este período, são expelidos ou reabsorvidos.

1.8 Ducto Deferente

À medida que o ducto do epidídimo se torna menos convoluto e seu diâmetro aumenta, ele passa a ser chamado de ducto deferente (Figura 9). O dueto deferente ascende ao longo da margem posterior dos testículos, penetra no canal inguinal (uma passagem na parede abdominal anterior), e entra na cavidade pélvica, onde se curva lateralmente e para baixo da superfície posterior da bexiga urinária. O dueto deferente apresenta uma túnica com 3 camadas musculares. Ele armazena os espermatozóides por muitos meses, propelindo-os em direção à uretra durante a ejaculação, através das contrações penistálticas de sua túnica muscular. Os espermatozóides que não forem ejaculados são reabsorvidos.

1.9 Ducto Ejaculatório

Atrás da bexiga urinária estão os ductos ejaculatórios (Figura 10), formados pela união do dueto da vesícula seminal e o dueto deferente. Os ductos ejaculatórios ejetam esperma (sêmen) no interior da uretra.

1.10 Uretra

A uretra é o dueto terminal do sistema, servindo como uma via de passagem de esperma ou urina. No homem, a uretra passa através da próstata, do diafragma urogenital e do pênis.A abertura da uretra ao exterior é chamada de óstio externo da uretra.

1.11 Sêmen

O sêmen, que é ejaculado dum ante o ato sexual masculino, e constituído pelos líquidos oriundos do canal deferente, das vesiculas seminais, da próstata e das glândulas mucosas, especialmente as glândulas bulbo uretrais. A maior parte do sêmen é constituída pelo líquido proveniente das vesículas seminais (cerca de 60%), que é o último a ser ejaculado e serve para varrer os espermatozóides para fora do dueto ejaculatório e da uretra. E de aproximadamente 7,5 o pH médio do sêmen assim composto, tendo o líquido prostático alcalino neutralizado a leve acidez das outras frações do sêmen. O líquido prostático dá ao sêmen uma aparência leitosa, enquanto o líquido das vesículas seminais e das glândulas mucosas dá ao sêmen uma consistência mucóide. De fato, uma enzima coaguladora presente no líquido prostático faz o fibrinogênio do líquido das vesículas seminais formar um frágil coágulo, que então se dissolve ao alongo dos 15 a 30 minutos seguintes em virtude da lise realizada por uma fibrinolisina que se forma a partir de uma profibrinolisina prostática. Nos primeiros minutos após a ejaculação, os espermatozóides permanecem relativamente imóveis, (possivelmente em razão da viscosidade do) coágulo. Porém, quando este se dissolve, eles tornam-se altamente moveis.

Embora os esperrnatozóides possam viver por muitas semanas nos ductos genitais masculinos, após serem ejaculados no sêmen, seu tempo máximo de vida é de apenas 24 a 48 horas, à temperatura corporal. Em temperaturas mais baixas, porém, o sêmen pode ser armazenado por várias semanas e, quando congelado em temperaturas inferiores a — 1000C, permanece preservado por anos a fio.


2. Glândulas sexuais acessórias

Enquanto os ductos do sistema genital masculino armazenam e transportam os espermatozóides, as glândulas sexuais acessórias secretam a maior parte da porção líquida do sêmen (as secreções das glândulas acessórias e testículos combinadas). As vesículas seminais pareadas são estruturas em forma de saco situadas junto à base da bexiga urinária, à frente do reto (Figura11). Elas secretam um fluido alcalino e viscoso contendo frutose, prostaglandinas e proteínas de coagulação.

2.1 Pênis

O pênis é usado para introduzir esperma na vagina (Figura 12).

É um órgão cilíndrico que consiste de uma raiz, um corpo e a glande do pênis. É composto de três massas de tecido erétil. As duas massas dorsais são chamadas de corpos cavernosos do pênis. A massa ventral, o corpo esponjoso do pênis contém a uretra. Todas as três massas são envolvidas por fáscias e pele e consistem de tecido erétil contendo seios sangüíneos. Sob a influência de estimulação sexual, as artérias que irrigam o pênis dilatam-se, e grandes quantidades de sangue entram nos seios, resultando em uma ereção, um reflexo parassimpático. Detalhes das respostas sexuais masculinas serão apresentados no próximo capítulo. Um esfíncter de músculo liso na base da bexiga urinária se fecha durante a ejaculação para evitar a mistura de urina ácida com o sêmen na uretra, o que imobilizaria os espermatozóides. O esfíncter também evita que o sêmen entre na bexiga urinária.

A extremidade distal do corpo esponjoso é uma região levemente aumentada chamada de glande do pênis, em forma de avelã. Na glande está a abertura da uretra (óstio externo da uretra) para o exterior. Recobrindo a glande está o prepócio do pênis, a pele frouxa.


3. ANATOMIA DAS GÔNADAS FEMININAS

3.1 Sistema Genital Feminino

Os órgãos femininos de reprodução incluem os ovários (gônadas femininas), que produzem ovócitos secundários (células que se desenvolvem em óvulos maduros, ou ovos, após a fertilização) e os hormônios sexuais femininos, progesterona e estrógenos, inibina e relaxina; as tubas uterinas (de Falópio) que transportam o óvulo ao útero; a vagina; os órgãos externos — a vulva ou o pudendo (Figura 13). As glândulas mamárias também são consideradas parte do sistema genital feminino.

A especialidade da medicina que lida com o diagnóstico e o tratamento das doenças do sistema genital feminino é chamada de ginecologia (gineco = mulher).

3.2 Ovários

Os ovários (ovarium receptáculo de óvulos) são órgãos pareados que surgem no período fetal a partir do mesmo tecido embrionário que os testículos. São do tamanho e da forma de amêndoas. Encontram-se um de cada lado da cavidade pélvica, mantidos no lugar por ligamentos suspensórios, largos e ováricos (Figura 14). Cada ovário contém um hilo por onde entram nervos, vasos sangüíneos e vasos linfáticos.

3.3 Ovogênese

A formação de um óvulo haplóide (n) no ovário é chamada de ovogênese. Enquanto a espermatogênese se inicia, nos homens, na puberdade, a ovogênese se inicia, nas mulheres, antes mesmo do nascimento. A ovogênese ocorre essencialmente da mesma maneira que a espermatogênese. Ela envolve meiose e maturação.A espermatogênese e a ovogênese diferem, também, em outros aspectos. A espermatogênese é um processo contínuo, que se inicia na puberdade e continua por toda a vida; a ovogênese, que resulta na produção de um ovócito secundário, inicia durante a primeira menstruação e cessa na menopausa. Ainda, os espermatozóides são bem pequenos, têm flagelos para locomoção, e contêm poucos nutrientes; um ovócito secundário é maior, não apresenta flagelos, e contém mais nutrientes, para sua sustentação até que ocorra a implantação (após a fecundação) no útero.

3.4 Tubas Uterinas (de Falópio)

O corpo feminino contém duas tubas uterinas (de Falópio) que se localizam lateralmente ao útero e transportam os ovócitos secundários dos ovários ao útero. Cada tuba apresenta uma extremidade aberta em forma de funil, o infundíbulo, próxima ao ovário, da qual partem projeções digitais chamadas fímbrias (fimbriae = franjas), que auxiliam na coleção dos ovócitos secundários para o interior da tuba após a ovulação. A partir do infundíbulo a tuba uterina curva-se inferiormente, atingindo o corno do útero.

3.5 Útero

O útero é o local onde ocorre a menstruação, a implantação de um óvulo fertilizado, o desenvolvimento do feto durante a gravidez e o trabalho de parto. Situa-se entre a bexiga urinária e o reto e tem a forma de uma pêra invertida. As partes do útero incluem uma porção em forma de domo acima das tubas, chamada de fundo, uma porção central chamada de corpo, e uma porção estreita que se abre para a vagina chamada de colo. O interior do corpo uterino é chamado de cavidade uterina.

O útero é mantido em posição por vários ligamentos. Estes são os ligamentos largos, uterossacral, cardinal e redondo. O ligamento largo também forma parte da camada externa do útero, o perimétrio (peri = ao redor).

A camada muscular intermediária do útero, o miométrio (myo = músculo), perfaz a maior parte da parede uterina. Consiste de músculo liso. Durante o trabalho de parto, contrações coordenadas dos músculos auxiliam a expulsão do feto.

3.6 Vagina

A vagina (vagina bainha) serve como passagem para o fluxo menstrual e para o feto. Também é o receptáculo do pênis durante o ato sexual. Situa-se entre a bexiga urinária e o reto. Um recesso chamado defórnice da vagina (fornix = arca ou baú) circunda o colo do útero. O fórnice permite à mulher utilizar o diafragma contraceptivo.

3.7 Vulva

O termo vulva (volvere envolver), ou pudendo, refere-se aos órgãos femininos externos (Figura 15). Seus componentes são os que se seguem.O monte do púbis (de Vênus) é uma elevação de tecido adiposo recoberta por pêlos pubianos grossos que protege a sínfise púbica contra choques. Do monte do púbis, duas dobras longitudinais de pele, os lábios maiores estendem-se póstero-inferiormente. Os lábios maiores e o escroto são estruturas equivalentes (homólogas) em termos de origem fetal. Os lábios maiores contêm tecido adiposo e glândulas sudoríparas e sebáceas; são recobertos por pêlos pubianos. Lábios maiores são duas dobras de pele chamadas de lábios maiores. Os lábios menores não contêm pêlos pubianos e apresentam poucas glândulas sudoríparas; entretanto, contêm numerosas glândulas sebáceas.

O clitoris é uma pequena massa cilíndrica de tecido erétil e nervos. Localiza-se na junção anterior dos lábios menores. Uma camada de pele chamada de prepúcío forma-se no ponto onde os lábios menores se unem, e cobre o corpo do clitóris. A porção exposta do clitóris é a glande. O clitóris e a glande peniana do homem são estruturas equivalentes (homólogas). Como o pênis, o clitóris é capaz de aumentar de tamanho quando há estimulação táctil e assume papel na excitação sexual.

A região entre os lábios menores é chamada de vestíbulo da vagina. No vestíbulo estão os hímens (quando presente); o óstio vaginal, abertura da vagina para o exterior; o óstio externo da uretra, abertura da uretra para o exterior; e, em qualquer lado do óstio vaginal, as aberturas dos ductos das glândulas uretrais (de Skene).

3.8 Períneo

O períneo é uma área em forma de losango entre as coxas (anterior) e as nádegas (posterior) tanto em homens quanto em mulheres. Contém os órgãos genitais externos e o ânus.

Na mulher, a região entre a vagina e o ânus é conhecida como períneo clínico. Se a vagina for muito pequena para acomodar a cabeça de um feto em expulsão, a pele, o epitélio vaginal, a gordura subcutânea e músculos do períneo clínico podem rasgar.


4. HORMÔNIOS MASCULINOS

4.1 Testosterona e outros hormônios masculinos

4.1.2 Secreção de testosterona pelas células intersticiais dos testículos.

Os testículos secretam vários hormônios sexuais masculinos, que são coletivamente denominados androgênios. Entretanto, um deles, a testosterona , é tão mais abundante e potente que os outros que pode ser considerado como sendo o hormônio significativo, responsável pelos efeitos hormonais masculinos.

A testosterona é formada pelas células lnterstlciais de Levdig, situadas nos interstícios entre os túbulos seminíferos, conforme mostrado na (Figura16) e constituem cerca de 20% da massa do testículo adulto. As células intersticiais do testículo não são numerosas na criança, mas o são no homem adulto em qualquer época depois da puberdade e secretam grande quantidade de testosterona.

4.1.3 Secreção de androgênios em outras partes do corpo

O termo androgênio é utilizado como sinônimo de hormônio sexual masculino, mas também incluem hormônios sexuais masculinos produzidos em outras partes do corpo que não os testículos. A glândula supra-renal, por exemplo, secreta pelo menos cinco androgênios diferentes, embora o somatório de suas atividades masculinizantes sejam normalmente tão pequenos que eles não produzem características masculinas significativas. No entanto, quando ocorre um tumor nas células supra-renais produtoras de androgênios, a quantidade de hormônios androgênicos pode tornar-se suficientemente grande para produzir todas as características sexuais secundarias masculinas.

4.1.4 Química da Testosterona.

Todos os androgênios são compostos esteróides, pelas fórmulas da testosterona e de seu parente próximo, o hormônio diidrotestosterona, também secretado em pequena quantidade pelo testículo. Tanto nos testículos como nas supra-renais, os androgênios podem ser sintetizados a partir do colesterol ou diretamente da acetil-coenzima A.

4.1.5 Metabolismo da testosterona.

Depois de secretada pelo testículo, a testosterona, em sua maior parte ligada frouxamente a proteínas plasmáticas, circula no sangue por cerca de 30 a 60 minutos antes de se fixar aos tecidos ou se degradada em produtos inativos, que subseqüentemente são excretados.

Grande parte da testosterona que se fixa aos tecidos é convertida no interior das células em diidrotestosterona, é sob essa forma que a testosterona executa muitas de suas funções intracelulares.

4.1.6 Degradação e excreção da testosterona.

A testosterona que não é fixada pelos tecidos é logo convertida, principalmente no fígado, em androsterona e desidroepiandrosterona, sendo ao mesmo tempo conjugada como glicuronídio ou sulfato. Estas formas conjugadas são excretadas pela bile, para o tubo intestinal, ou pela urina.

4.2 Funções da Testosterona

Em geral, a testosterona é responsável pelas características distintivas do corpo masculino. Mesmo durante a vida fetal, os testículos são estimulados, pela gonadotropina coriônica da placenta, a produzir pequena quantidade de testosterona, mas durante a infância e até a idade de 10 a 13 anos, aproximadamente, não é produzida praticamente nenhuma testosterona. Em seguida a produção aumenta rapidamente com o início da puberdade e perdura pela maior parte do resto da vida, diminuindo de modo acentuado depois dos 50 e chegando, talvez, a um terço do valor máximo por volta dos 80 anos.

4.2.1 Funções da testosterona durante o desenvolvimento fetal.

A testosterona começa a ser elaborada pelo organismo masculino por volta do segundo mês de vida embrionária. A injeção de grande quantidade de hormônio sexual masculino em animais grávidos causa o desenvolvimento de órgãos sexuais masculinos no feto, mesmo que este seja do sexo feminino. Além disso, a retirada dos testículos fetais num feto masculino causa o desenvolvimento de órgãos sexuais femininos. Por essa razão, a presença ou ausência de testosterona no feto é o fator determinante do desenvolvimento de órgãos genitais e traços característicos masculinos ou femininos. Isso significa que a testosterona excretada pelas cristas genitais e, subseqüentemente, pelos testículos em desenvolvimento é responsável pelo aparecimento das características sexuais masculinas, incluindo o crescimento do pênis e da bolsa escrotal, em vez da formação do clitóris e da vagina. Ela também causa o desenvolvimento da glândula prostática, das vesículas seminais e dos ductos genitais masculinos, suprimindo ao mesmo tempo a formação dos órgãos genitais femininos.

4.2.2 Efeito da testosterona sobre a descida dos testículos.

Os testículos geralmente descem para o escroto durante os últimos dois, ou três meses da gravidez, quando estão secretando quantidade adequada de testosterona. Quando uma criança do sexo masculino nasce com testículos que não desceram, a administração de testosterona freqüentemente faz que isso ocorra da maneira habitual, desde que os canais inguinais sejam suficientemente largos para permitir a passagem dos testículos. A administração de hormônios gonadotrópicos, que estimulam as células intersticiais dos testículos do recém-nascido a produzir testosterona, também pode ocasionar a descida dos testículos. Assim, o estímulo para isso é a testosterona, indicando novamente que ela é uni hormônio importante para o desenvolvimento sexual masculino durante a vida fetal.

4.2.3 Efeito da testosterona sobre o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundarias do adulto.

A secreção da testosterona após a puberdade faz o pênis, o escroto e os testículos aumentarem de tamanho cerca de oito vezes até a idade de 20 anos, aproximadamente. Além disso, a testosterona provoca o desenvolvimento, ao mesmo, tempo, das características sexuais secundárias masculinas, começando na puberdade e terminando na maturidade. Essas características sexuais secundarias, além dos próprios órgãos sexuais, distinguem o homem da mulher, da seguinte maneira:

Distribuição dos pêlos corporais.

A testosterona causa o crescimento de pêlos (1) tia região pubiana, (2) na face, (3) em geral, no tórax e (4) mais raramente, em outras regiões do corpo. Como as costas. Ela também torna mais numerosos os pelos em muitas outras partes do corpo.

4.2.4 Calvície.

Em alguns homens, a testosterona diminui o crescimento do cabelo no topo da cabeça; o homem sem testículos funcionantes não fica calvo. No entanto, muitos homens viris nunca ficam calvos, pois a calvície resulta de dois fatores: primeiro, um terreno genético favorável ao desenvolvimento da calvície c, segundo, superposta a esse terreno, grande quantidade de hormônios androgênicos. Uma mulher que tenha o terreno genético apropriado e que durante longo tempo sofra os efeitos de uni tumor androgênico ficará calva da mesma forma que um homem.

4.2.5 Efeito sobre a voz.

A testosterona secretada pelos testículos ou injetada no corpo provoca a hipertrofia da mucosa laríngea e o aumento da laringe. Esses efeitos causam de início uma voz relativamente dissonante, "rachada", mas esta gradualmente se transforma na típica voz grossa masculina.

4.2.6 Efeito sobre apele.

A testosterona aumenta em todo o corpo a espessura da pele e. também, a resistência dos tecidos subcutâneos.

4.2.7 Efeito sobre a formação de proteínas e o desenvolvimento muscular.

Uma das mais importantes características maculenas é o desenvolvimento crescente da musculatura após a puberdade; os homens têm, em relação às mulheres, uni aumento médio de massa muscular da ordem de 50 %. Isso também está associado ao aumento das proteínas em outras partes do corpo. Muitas das alterações cutâneas decorrem da deposição de proteínas na pele; as alterações na voz provavelmente também resultam, em grande parte, da função anabólica protéica da testosterona.

Em razão do enorme efeito que a testosterona exerce sobre a musculatura corporal, androgênios sintéticos são amplamente utilizados por atletas que desejam melhorar seu desempenho.

4.2.8 Efeitos sobre o crescimento ósseo e a retenção de cálcio.

Após o grande aumento que ocorre na testosterona circulante à época da puberdade, ou após a administração prolongada de testosterona, os ossos crescem consideravelmente em espessura e neles é depositada quantidade substancial de sais de cálcio. Assim, a testosterona aumenta a quantidade total da matriz óssea, e isso acarreta retenção de cálcio. Acredita-se que o aumento da matriz óssea seja decorrente da função anabólica protéica geral da testosterona.

Quando grande quantidade de testosterona (ou de qualquer outro androgênio) é secretada anormalmente na criança ainda cm desenvolvimento, a velocidade do crescimento ósseo aumenta de maneira acentuada, acarretando umsurto de crescimento de todo o corpo. Entretanto, a testosterona faz com que as epífises dos ossos longos se uniam às hastes dos ossos em etapa precoce da vida. Por essa razão, apesar da rapidez do crescimento, a união precoce das epífises impede que o indivíduo fique tão alto quanto ficaria se a testosterona não fosse secretada. Mesmo em homens normais, a altura adulta final é ligeiramente inferior do que a que teria sido atingida se o indivíduo fosse castrado antes da puberdade.

4.3 Regulação da Secreção Hipofisária de LH e FSH pelo HipotálamoO Hormônio Liberador de Gonadotropinas

As gonadotropinas, da mesma forma que a corticotropina e a tirotropina, são secretadas pela hipófise anterior principalmente em resposta à atividade nervosa no hipotálamo. Estímulos psíquicos, por exemplo, podem afetar a fertilidade de animais de sexo masculino, o que é exemplificado pelo fato de que o transporte de um touro em condições de desconforto pode causar esterilidade temporária praticamente completa.

4.3.1 Hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH), o hormônio hipotalâmico que estimula a secreção das gonadotropinas.

Tanto em homens como cm mulheres, o hipotálamico controla a secreção de gonadotropinas por meio do sistema porta hipotalâmico-hipofisário, como discutido no Cap. 49. Embora existam dois hormônios gonadotrópicos distintos, o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante, só foi descoberto um hormônio liberador hipotalâmico, que é chamado de hormônio libera-dor de gonadotropinas (GnRH).

4.3.2 Inibição recíproca, pelos hormônios testiculares, da secreção de hormônios gonadotrópicos pelo eixo hipotálamo-hipófise anterior. Controle da secreção de testosterona mediante feedback.

O seguinte sistema de controle mediante feedback negativo atua continuamente, controlando de modo muito preciso a secreção de testosterona:

1. O hipotálamo secreta o hormônio liberador de gonadotropinas, que estimula a hipófise anterior a secretar o hormônio luteinizante.

2. O hormônio luteinizante, por sua vez, estimula nos testículos a hiperplasia das células de Levdig e, também, a produção de testosterona por essas células.

3. A testosterona, por sua vez, exerce um efeito de feedback negativo sobre o hipotálamo, inibindo a produção do hormônio liberador de gonadotropinas. Isso evidentemente limita a produção de testosterona. Por outro lado, quando a produção desta fica demasiado baixa, a falta de inibição do hipotálamo faz com que a secreção de testosterona retorne ao seu nível normal.

4.3.3 Controle da espermatogênese mediante feedbackpapel do hormônio inibina.

A espermatogênese testicular inibe a secreção de FSH. Acredita-se que as células de Sertoli, ao mesmo tempo em que nutrem os espermatozóides em desenvolvimento, secretem um hormônio denominado inibina que teria efeito inibitório direto principalmente sobre a hipófise anterior (mas, talvez, também em menor grau sobre o hipotálamo), inibindo a secreção do FSH. A inibina é um hormônio glicoprotéico, com peso molecular entre 10.000 e 30.000, tendo sido isolado de células de Sertoli em cultura. Esse ciclo de feedback é o seguinte:

1. O hormônio folículo-estimulante atua sobre as células de Sertoli, que fornecem nutrição para os espermatozóides em desenvolvimento.

2. As células de Sertoli liberam inibina, que, por sua vez, exerce efeito de feedback negativo sobre a hipófise anterior, inibindo a produção de FSH. Assim, esse ciclo de feedback mantém relativamente constante a espermatogênese, sem insuficiência ou excesso de produção, o que é necessário para a função reprodutiva masculina.


5 HORMÔNIOS FEMININOS

5.1 O SISTEMA HORMONAL FEMININO

O sistema hormonal feminino, como o masculino, é formado por três hierarquias distintas de hormônios:

1. Um hormônio liberador hipotalâmico: o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH).

2. Os hormônios da hipófise anterior: hormônio foliculo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizanante (LH), ambos secretados em resposta ao hormônio liberador GnRH produzido pelo hipotálamo.

3. Os hormônios ovarianos: estrogênio e progesterona, secretados pelos ovários em resposta aos dois hormônios liberados pela hipófise anterior.

Os diferentes hormônios não são secretados em quantidades constantes e fixas, mas sim em quantidades acentuadamente diferentes nas diversas partes do ciclo sexual feminino, como será explicado mais adiante neste mesmo capítulo.

Antes que se possa discutir a interação entre esses diferentes hormônios, é necessário primeiro descrever algumas de suas funções específicas e suas relações com o funcionamento ovariano.

5.2 FUNÇÃO DOS HORMÔNIOS GONADOTROPICOS DA HIPÓFISE ANTERIOR NO CONTROLE DO CICLO OVARIANO MENSAL

O período reprodutivo feminino normal caracteriza-se por alterações rítmicas mensais na secreção dos hormônios femininos e por alterações correspondentes nos próprios órgãos sexuais. (Esse padrão rítmico é denominado ciclo sexual feminino) (ou, menos precisamente, ciclo menstrual). A duração do ciclo é, em média, de 28 dias. Ele pode ser mais curto, de apenas 20 dias, ou, mais longo, de até 45 dias, mesmo cm mulheres inteiramente normais, embora ciclos com duração anormal estejam freqüentemente associados à diminuição da fertilidade.

As duas conseqüências importantes do ciclo sexual feminino são: primeiro apenas um só óvulo maduro é normalmente liberado pelos ovários a cada mês, de modo que em geral apenas um feto pode começar a crescer de cada vez; segundo, o endométrio uterino é preparado para a implantação do óvulo fertilizado na época adequada do mês.

5.2.1 Os hormônios gonadotrópicos da hipófise anterior.

A alterações ovarianas durante o ciclo sexual dependem inteiramente dos hormônios gonadotrópicos secretados pela hipófise anterior. Ovários que não são estimulados por esses hormônios permanecem inativos, que é o que acontece durante toda a infância, quando não é secretado praticamente nenhum hormônio gonadotrópico. Contudo, por volta de 8 anos, a hipófise começa a secretar progressivamente mais e mais hormônios gonadotrópicos, o que culmina no início dos ciclos sexuais mensais entre os 11 e 15 anos de idade; esse início é denominado menarca, e esse período da vida das meninas é chamado de puberdade.

A hipófise anterior secreta dois hormônios diferentes, reconhecidamente essenciais para a função dos ovários: (1) o hormônio folículo—estimulante (FSH) e (2) o hormônio luteinizante (LH). Ambos são pequenas glicoproteínas com pesos moleculares em torno de 30.000.

A cada mês do ciclo sexual feminino ocorrem elevação e diminuição cíclicas do FSH e do LH. Essas variações cíclicas causam, por sua vez, alterações ovarianas cíclicas, que são explicadas nas seções subseqüentes.

5.2.2 Crescimento dos Folículos Ovarianos

Função do FSH

Durante toda a infância, os folículos primordiais não crescem, mas na puberdade, quando a hipófise anterior começa a secretar FSH e LH cm grandes quantidades, os ovários, e especialmente muitos dos folículos nele contidos, começam a crescer. A primeira etapa do crescimento folicular consiste no aumento do próprio óvulo e no surgimento de camadas adicionais de células da granulosa; o folículo é designado, então, folículo primário. Algumas semanas antes de a ovulação ocorrer surgem muitas outras camadas de células da granulosa, bem como diversas camadas de células tecais ao redor das células da granulosa. As células tecais se originam do estroma ovariano e logo assumem características epitelióides similares às das células da granulosa. E a combinação destas últimas e de células tecais que secreta os hormônios ovarianos (estrogênio e progesterona).

5.2.3 Os folículos vesiculares

No início de cada mês do ciclo sexual feminino, imediatamente após a menstruação, as concentrações dos hormônios hipofisários FSH e LH aumentam. A cada mês, esses hormônios causam, em cerca de 20 folículos ovarianos, um crescimento acelerado das células tecais e das células da granulosa. Essas células, por sua vez, secretam um líquido folicular contendo concentração elevada de estrogênio, uru dos importantes hormônios sexuais femininos a serem discutidos adiante. O acúmulo desse líquido no folículo faz aparecer no meio da massa de células tecais e da granulosa uma cavidade cheia de líquido denominada antro.

Após a formação do antro, as células tecais e da granulosa continuam a proliferar, sua atividade secretora aumenta e cada um dos folículos em crescimento é agora denominado folículo vesicular.

À medida que o folículo vesicular cresce, as células tecais e da granulosa continuam a multiplicar-se principalmente num dos pólos do folículo. E nessa massa que o óvulo fica situado.

5.2.4 Maturação, a cada mês, de apenas um folículo; atresia dos demais.

Após uma semana ou mais de crescimento — antes, porém, que ocorra a ovulação — um dos folículos começa a crescer mais do que todos os outros, os quais começam a involuir (processo denominado atresia), dizendo-se que esses folículos tornaram-se atrésicos. Foi assim proposta a seguinte explicação para a atresia: o folículo que se desenvolve mais do que os outros também secreta mais estrogênio que eles. Além disso, esse estrogênio produz um efeito de feedback positivo sobre esse folículo grande e único, produzindo nas células da granulosa e nas células tecais número crescente de receptores tanto para o FSH como para o LH, promovendo assim aumento explosivo da secreção de líquido e de hormônios para esse folículo que se encontra em desenvolvimento rápido. Contudo, ao mesmo tempo, a grande quantidade de estrogênio produzida por esse mesmo folículo age sobre o hipotálamo deprimindo a secreção de FSH pela hipófise anterior. Acredita-se que assim seja bloqueado o crescimento subseqüente dos folículos menos desenvolvidos, que ainda não iniciaram sua própria estimulação através do mecanismo de feedback positivo. Assim, o folículo maior continua a crescer por força de seus efeitos intrínsecos de feedback positivo, enquanto todos os outros folículos param de crescer e até mesmo involuem.

Esse processo de atresia é evidentemente importante, por possibilitar que apenas um dos folículos cresça o suficiente para ovular. Esse folículo único tem tamanho de aproximadamente 1 a 1,5 cm à época da ovulação.

5.2.5 Ovulação

Na mulher que apresenta um ciclo sexual normal, de 28 dias, a ovulação ocorre 14 dias após o início da menstruação.

Imediatamente antes da ovulação, a saliente parede externa do folículo aumenta rapidamente de volume e unia pequena área no centro da cápsula, denominada estigma, projeta-se para fora como um mamilo. Em mais meia hora, aproximadamente, começa a emanar líquido do folículo através do estigma. Cerca de 2 minutos depois, o estigma rompe-se amplamente e um líquido mais viscoso, que ocupava a parte central do folículo, é lançado na cavidade abdominal. Esse líquido viscoso traz consigo o óvulo circundado pela coroa radiada, que é constituída por alguns milhares de células da granulosa.

5.2.6 Necessidade do LH para a ocorrência da ovulaçãoaumento pré-ovulatório da secreção do LH.

O hormônio luteinizante é necessário para o crescimento final do folículo e para a ovulação. Sem esse hormônio, mesmo que esteja disponível grande quantidade de FSH, o folículo não progride até a etapa da ovulação.

Aproximadamente dois dias antes da ovulação, por motivos ainda não inteiramente esclarecidos, mas que serão discutidos com mais detalhes adiante neste mesmo capítulo, a secreção de LH pela hipófise anterior aumenta acentuadamente, elevando-se entre 6 e 10 vezes, atingindo seu nível máximo cerca de 16 horas antes da ovulação. Simultaneamente, o FSH aumenta cerca de duas vezes com esses dois hormônios então agindo em sinergismo, provocando aumento extremamente rápido do volume do folículo, o que culmina na ovulação.

5.2.7 O Corpo LúteoA Fase Lútea do Ciclo Ovariano

No último dia antes da ovulação e continuando por aproximadamente um dia depois dela, as células da granulosa, sob estimulação do hormônio luteinizante, apresentam rápidas alterações físicas e químicas, processo esse denominado luteinizaçào. Assim, a massa de células da granulosa que permanece no ovário no local da ruptura do folículo transforma-se no corpo lúteo, mostrado na metade inferior da Fig. 55.3: ele então secreta grandes quantidades de progesterona e estrogênio, mas principalmente de progesterona. Essas células aumentam muito e vêm a apresentar inclusões lipídicas, que lhes conferem uma cor amarelada característica, da qual deriva o termo lúteo, que significa amarelo.

Na mulher normal, o corpo Iúteo cresce até alcançar aproximadamente 1,5 cm de diâmetro, atingindo esse grau do desenvolvimento cerca de sete a oito dias após a ovulação. Depois disso, ele começa a involuir, perdendo sua função secretora e suas características lipídicas aproximadamente 12 dias após a ovulação, transformando-se, então, no chamado corpus albicans, que durante as semanas subseqüentes é substituído por tecido conjuntivo.

5.2.8 O papel do LH.

A conversão das células da granulosa em células luteínicas, após a ovulação, requer a presença de hormônio luteinizante (LH). De fato, esta é a razão de seu nome. Além disso, havendo presença continuada do LH, o crescimento do corpo lúteo é favorecido, sua secreção é maior e sua vida é prolongada.

5.2.9 Término do ciclo ovariano e início do ciclo seguinte.

Após vários dias da fase lútea do ciclo ovariano, a grande quantidade de estrogênio e progesterona secretada pelo corpo lúteo causa efeito de feedback sobre o hipotálamo, reduzindo a secreção de FSH e de LH. Como conseqüência, durante esse período, nenhum novo foliculo começa a crescer no ovário. Entretanto, quando o corpo lúteo se degenera totalmente ao fim do 12.º dia de sua vida (aproximadamente no 26.º dia do ciclo sexual feminino), a perda da supressão decorrente do mecanismo de feedback possibilita agora à hipófise anterior começar de novo a secretar grandes quantidades de FSH e LH. Esses dois hormônios promovem o crescimento de novos folículos, dando início a um novo ciclo ovariano. Ao mesmo tempo, a pouca secreção de progesterona e estrogênio leva o útero a menstruar, conforme será explicado adiante.

5.3 Funções dos Hormônios Ovarianos Estradiol e Progesterona

Os estrógenos e as progestinas constituem os dois tipos de hormônios sexuais ovarianos. Sem dúvida, o mais importante dos estrógenos é o estradiol, e a progestina mais importante é a progesterona. Os estrógenos promovem principalmente a proliferação e o crescimento de células corporais especificamente ligadas ao sexo, sendo responsáveis pelo desenvolvimento da maioria das características sexuais secundárias femininas. Por outro lado, as progeslinas destinam-se quase totalmente à preparação final do útero para a gravidez e das mamas para a amamentação.

5.3.1 Química dos Hormônios Sexuais

Os estrógenos.

Na mulher não grávida normal, os estrógenos só são secretados em quantidades apreciáveis pelos ovários, embora quantidades diminuem as também sei am secretadas pelos córtices supra-renais. Na gravidez quantidades enormes são também secretadas pela placenta.

Apenas três estrógenos estão presentes em quantidade significativa no plasma de seres humanos do sexo feminino: o estradiol, a estrona e o estriol. O principal estrógeno secretado pelos ovários é o ß-estradiol. Os outros têm pouca importância.

As progestinas, a mais importante das progestinas é,sem dúvida, a progesterona. Entretanto, pequena quantidade de uma outra progestina, a 17 idroxipiogesterona, é também secretada junto com a progesterona, tendo basicamente os mesmos efeitos. Contudo, para fins práticos, é geralmente adequado considerar a progesterona cofio sendo a progestina que, isoladamente, tem mais importância.

Na mulher grávida não é normal, a progesterona só é secretada em quantidade significativa durante a metade final de cada ciclo ovariano, quando é produzida pelo corpo lúteo.

5.3.2 Síntese dos estrógenos e progestinas.

Pelas fórmulas químicas dos estrógenos e do progesterona, todas substâncias são esteróides. Elas são sintetizadas nos ovários, principalmente a partir do colesterol derivado do sangue, mas também, em pequeno grau, da acetil-coenzima A, podendo múltiplas moléculas desta combinar-se para formar o núcleo esteróide apropriado.

5.4 Funções dos EstrógenosEfeitos sobre as características sexuais femininas primárias e secundárias

A principal função dos estrógenos é a de provocar proliferação celular e crescimento nos tecidos dos órgãos sexuais e em outros tecidos relacionados à reprodução.

5.4.1 Efeito sobre o útero e sobre os órgãos sexuais femininos externos.

Durante a infância, os estrógenos só são secretados em pequena quantidade, mas após a puberdade a quantidade de estrógenos secretada sob a influência dos hormônios gonadotrópicos hipofisários aumenta 20 vezes ou mais. Nessa ocasião, os órgãos sexuais femininos se transformam, passando do padrão da criança para o do adulto. As trompas, o útero e a vagina aumentam de tamanho. A genitália externa também aumenta, com a deposição de lipídios no monte pubiano e nos grandes lábios e com o aumento dos pequenos lábios.

Além disso, os estrógenos modificam o epitélio vaginal do tipo cubóide para o tipo estratificado, que é consideravelmente mais resistente a traumas e infecções que o epitélio pré-puberal. Mais importante, contudo, são as alterações que ocorrem no endométrio sob a influência dos estrógenos, pois estes causam proliferação acentuada do endométrio e desenvolvimento de glândulas endometriais que mais tarde serão utilizadas para ajudar a nutrição do óvulo em fase de implantação.

5.4.2 Efeito dos estrógenos sobre as mamas.

Os estrógenos promovem a deposição de gordura nas mamas, o desenvolvimento dos tecidos do estroma mamário e o crescimento de um extenso sistema de ductos. Os lóbulos e os alvéolos da mama desenvolvem-se em pequeno grau, mas são a progesterona e a prolactina que causam o crescimento e o funcionamento dessas estruturas. Em suma, os estrógenos desencadeiam o crescimento das mamas e do aparelho mamário produtor de leite, sendo também responsáveis pela aparência externa característica da mama feminina adulta, mas não completam a conversão das estruturas glandulares mamárias em órgãos produtores de leite.

5.4.3 Efeito dos estrógenos sobre o esqueleto.

Os estrógenos causam aumento da atividade osteoblástica. Assim, na puberdade, quando a mulher entra em seu período reprodutivo, sua altura aumenta rapidamente durante alguns anos. Entretanto, os estrógenos exercem outro potente efeito sobre o crescimento esquelético, que acaba por fazer cessar o aumento da altura, ou seja, eles causam a união precoce das epífises às hastes dos ossos longos. Esse efeito é muito mais intenso na mulher do que o efeito semelhante da testosterona no homem. Como conseqüência, o crescimento na mulher cessa geralmente alguns anos antes do crescimento no homem. O eunuco feminino, por não produzir nenhum estrógeno, em geral alcança urna altura vários centímetros superior à da mulher adulta normal, porque suas epífises não se unem precocemente.

5.4.4 Efeito dos estrógenos sobre a deposição de gordura.

Os estrógenos causam a deposição de maior quantidade de gordura nos tecidos subcutâneos. Como conseqüência, o valor global da densidade específica do corpo feminino, avaliado pela flutuação na água, é consideravelmente menor que o do corpo masculino, que contém mais proteínas e menos gordura. Além da deposição de gordura nas mamas e rios tecidos subcutâneos, os estrógenos causam deposição particularmente acentuada de lipídios nas nádegas e coxas, produzindo o alargamento dos quadris característico da figura feminina.

5.4.5 Efeito dos estrógenos sobre a pele.

Os estrógenos fazem a pele ficar mais vascularizada que o normal; esse efeito freqüentemente faz com que o sangramento em superfícies cortadas seja maior do que o observado em homens.

5.5 Funções da Progesterona

5.5.1 Efeito da progesterona sobre o útero

A função mais importante da progesterona, sem dúvida, é a de promover alterações secretoras no endométrio, assim preparando o útero para a implantação do óvulo fertilizado.

5.5.2 Efeito da progesterona sobre as trompas de Falópio

A progesterona também promove alterações secretoras no revestimento mucoso das trompas uterinas. Essas secreções são importantes para a nutrição do óvulo fertilizado e em processo de divisão, durante os vários dias em que ele percorre a trompa antes de se implantar no útero.

5.5.3 Efeito da progesterona sobre as mamas.

A progesterona promove o desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos mamários, fazendo com que as células alveolares proliferem, aumentem de tamanho e assumam natureza secretora. Contudo, na verdade, ela não faz os alvéolos secretarem o leite, pois, o leite só é secretado após a mama preparada ser adicionalmente estimulada pela prolactina produzida na hipófise anterior.

A progesterona também faz as mamas aumentarem de volume. Parte desse aumento deve-se ao desenvolvimento secretor nos lóbulos e alvéolos, mas parte dele decorre também do aumento de líquido no tecido subcutâneo.

5.5.4 O Ciclo Endometrial Mensal

Em associação à produção cíclica de estrógenos e progesterona pelos ovários, ocorre no útero um ciclo endometrial que passa pelas seguintes fases: primeira, a proliferação do endométrio uterino; segunda, a produção de alterações secretoras no endométrio; e terceira, a descamação do endornétrio, que é cotrial.

5.5.5 Fase proliferativa (fase estrogênica) do ciclo endometrial, antes da ovulação.

No início de cada ciclo menstrual, a maior parte do endométrio se descarna pelo processo da menstruação. Após a menstruação só permanece na base do endométrio original uma fina camada de estroma endometrial, e as únicas células epiteliais remanescentes são as localizadas nas partes profundas que restam das glândulas e criptas do endométrio. Sob a influência dos estrógenos, secretados em quantidade crescente pelos folículos vesiculares do ovário durante a primeira parte do ciclo ovariano, as células do estroma e as células epiteliais proliferam rapidamente. A superfície endometrial é reepitelizada entre quatro e sete dias após o início da menstruação. Durante as duas primeiras semanas do ciclo sexual — ou seja, até a ovulação — o endométrio aumenta muito de espessura, graças ao número crescente de células do estroma, ao crescimento progressivo das glândulas endometriais, e, ainda, ao crescimento de vasos sanguíneos no interior do endométrio, sendo todos esses efeitos promovidos pelos estrógenos. A época da ovulação, o endométrio tem aproximadamente 2 a 3 mm de espessura.

5.5.6 Fase secretora (fase progestacional) do ciclo endometrial, após a ovulação.

Durante a última metade do ciclo sexual, pois depois de ocorrida a ovulação, tanto os estrógenos como a progesterona são secretados em grande quantidade pelo corpo lúteo. Os estrógenos causam ligeira proliferação celular adicional, ao passo que a progesterona produz, em grau considerável, espessamento e desenvolvimento secretora mio endométrio. A tortuosidade das glândulas aumenta, substâncias secretoras acumulam-se nas células epiteliais glandulares e as glândulas secretam pequena quantidade de líquido endometrial. Além disso, o citoplasma das células do estroma aumenta, os depósitos de lipídios e glicogênio nessas células aumentam muito e o suprimento sanguíneo do endométrio aumenta adicionalmente, em proporção à atividade secretora em andamento. A espessura do endométrio praticamente dobra durante a fase secretora, de modo que, ao final do ciclo mensal, ele terá uma espessura de 5 a 6 mm.

O objetivo global de todas essas alterações endometriais é a formação de um endométrio altamente secretor, contendo grande reserva de nutrientes, capaz de proporcionar condições apropriadas à implantação de uni óvulo fertilizado durante a última metade do ciclo mensal.

5.6 REGULAÇÃO DO RITMO MENSAL FEMININO: INTERAÇAO ENTRE OS HORMONIOS OVARIANOS E HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIOS

5.6.1 Função do Hipotálamo na Regulação da Secreção das Gonadotropinas, Hormônio Liberador de Gonadotropinas

No caso das gonadotropinas, pelo menos um hormônio liberador, o hormônio liberador das gonadotropinas (GnRH), é importante. Esse hormônio já foi purificado e verificou-se que se trata de um decapeptídeo com a seguinte fórmula:

Glu-His-Trp-Ser-Tir-Gli-Leu-Arg-Pro-Gli-NH2

5.6.2 Secreção pulsátil, intermitente, do GnRH pelo hipotálamo e liberação pulsátil do LH pela hipófise anterior.

O hipotalamo não secreta o GnRH de maneira contínua, mas sim em pulsos que duram alguns minutos e que ocorrem a intervalos de uma a três horas. Além disso, quando o GnRH é infundido continuamente, ficando então disponível de maneira permanente, e não apenas durante os pulsos, seu efeito em produzir a liberação de LH e de FSH pela hipófise anterior desaparece totalmente. Portanto, por motivos desconhecidos, a natureza pulsátil da liberação do GnRH é absolutamente essencial a sua função.

A liberação pulsátil do GnRH também causa produção pulsátil de LH.

Em menor escala, a secreção do FSH também se eleva e se reduz, acompanhando os pulsos hipotalâmicos do GnRH, mas há um efeito prolongado e mais importante sobre a secreção de FSH, que persiste por muitas horas em vez de se alterar de um pulso a outro.

5.6.3 Centros hipotalâmicos para liberação do GnRH.

A atividade neuronal causadora da liberação pulsátil do GnRH ocorre principalmente mios núcleos arqueados do hipotálamo mediobasal. Múltiplos centros neuronais localizados mio sistema límbico cerebral transmitem ao hipotálamo sinais que modificam tanto a magnitude da liberação do GnRH como a freqüência dos pulsos, o que fornece uma possível explicação para a freqüente modificação da função sexual feminina por fatores psíquicos.

5.6.4 Efeito de Feedback Negativo dos Estrógenos e da Progesterona sobre a Secreção de LH e FSH

Os estrógenos, em pequena quantidade, e a progesterona, em grande quantidade, inibem a produção de FSH e LH. Em sua maior parte, esses efeitos de feedback atuam diretamente sobre a hipófise anterior, mas, em menor escala, também sobre o hipotálamo, diminuindo a secreção do GnRH especialmente alterando a freqüência dos pulsos de GnRH.

5.6.5 O hormônio inibina, produzido pelo corpo lúteo, inibe a secreção de FSH e de LH.

Além dos efeitos de feedback dos estrógenos e da progesterona, há ainda outro hormônio envolvido. E a inibina, secretada pelo corpo lúteo juntamente com os hormônios sexuais esteróides. Esse hormônio age diretamente sobre a hipófise anterior, também inibindo, ainda que em menor grau, a secreção de FSH e de LH. Por isso, acredita-se que a inibina possa ser particularmente importante para reduzir a seereção de FSI-I e de LH ao final do ciclo sexual feminino.

5.6.6 Efeito de Feedback Positivo dos Estrógenos Antes da Ovulação — Aumento Pré -Ovulatório da Secreção do Hormônio Luteínizante

Por motivos ainda não inteiramente compreendidos, a hipófise anterior secreta quantidade muito maior de LH mio período de um a dois dias e que tem início 24 a 48 horas antes da ovulação. Um aumento pré-ovulatório muito menor ocorre também nos níveis plasmáticos do FSH.

Experimentos demonstraram que a infusão de estrógenos na mulher, acima de uma velocidade crítica, por período de dois a três dias mia primeira metade do ciclo ovariano, causa aceleração rápida tanto do crescimento dos folículos como da secreção dos estrógenos ovarianos. Durante esse período, a secreção de FSH e de LH pela hipófise anterior é. De início, pouco suprimida. Em seguida, abruptamente, a secreção de LH aumenta seis a oito vezes e a secreção de FSH aumenta cerca de duas vezes. E esse aumento considerável do nível de LH que faz com que a ovulação ocorra.

Não é conhecida a causa desse aumento brusco na secreção do LH. Porém, algumas possíveis causas são as seguintes: (1) sugeriu-se que os estrógenos exerçam, nesse ponto do ciclo, um efeito peculiar de feedback positivo, estimulando a secreção hipofisária de LH e, em menor escala, a de FSH; isto contrasta em muito com seu efeito normal de feedback negativo durante o restante do ciclo mensal feminino. (2) As células da granulosa dos folículos começam a secretar quantidade pequena porém crescente de progesterona cerca de um dia antes do aumento préovulatório do LH, tendo sido sugerido que este pode ser o fator que estimula a secreção excessiva de LH.

Independentemente de sua causa, sem esse aumento pré-ovulatório normal da secreção de LH, a ovulação não ocorre.