Reciclando

Tudo se recicla Os novos caminhos da reciclagem, uma atividade que já emprega quase 1 milhão de brasileiros. Óleo que vira sabão Muito lixo no lugar errado. É o que acontece quando ignoramos os resíduos que produzimos em casa. E a conseqüência pode ter cara de filme de horror, sempre que o rio devolve o que recebe. Os especialistas em reciclagem dizem que cuidar do meio ambiente é cuidar da própria casa. Para quem mora na cidade, não adianta apenas se preocupar com a preservação das florestas. O papel da população é cuidar com carinho de um assunto que a maior parte ainda prefere esconder debaixo do tapete. Mas por onde começar a mudança? É tão simples. Tem que perder o preconceito e mudar a forma de olhar tudo o que vai para o lixo. Dona Terezinha acaba de conhecer um agente sócio-ambiental. Um voluntário que tem a missão de bater de porta em porta para fazer um alerta: jogar óleo de cozinha na pia, no esgoto ou no quintal é um erro. "Ele vai se impregnando nos canos de esgoto, que vão fechando. Com o tempo, toda a tubulação vai ficar entupida. Sem contar que isso demora muito para se degradar. É como se fosse a veia do coração: a gordura aumenta o colesterol e fecha as artérias, e o óleo faz a mesma coisa na rede de esgoto", explica o químico do projeto José Antônio Canal. Impregnado no solo, o óleo também ameaça a água dos lençóis freáticos. E o que fazer? O combate a esse problemão já reuniu mais de 60 voluntários numa organização em Santo André, no ABC Paulista. "Apenas 1% do óleo é reaproveitado. O óleo é um resíduo muito rico para ser reaproveitado. Podemos fazer muita coisa com ele, como sabão, sabonete, desinfetante, pasta de brilho, ração animal", diz o coordenador do projeto, Adriano Calhau. Eles se especializaram em fazer sabão. Já conseguem arrecadar cinco toneladas de óleo usado, todos os meses, com moradores e comerciantes cadastrados. Na pastelaria de Cláudio, são pelo menos 20 litros por semana. É tanto que, de vez em quando, ele ganha de volta o sabão, de graça. "O sabão funciona. É muito bom!", elogia. O sabão é artesanal e a receita, muito parecida com a das vovós de antigamente. Ele surge da mistura de gordura com soda cáustica. "O que sobra é doado para outra empresa, que faz um tratamento. Essa borra também serve para fazer sabão, mas precisa de um tratamento mais específico, que, no momento, nós não temos. Então, eles pegam essa borra e fazem sabão e ração animal", conta o químico José Antônio Canal. Assim, o que era lixo e sujava o meio ambiente pode ser 100% reaproveitado. Um processo que gera oportunidade de trabalho para muita gente e vai consolidando a mudança de hábito, de casa em casa. "Pelo menos aqui em casa ninguém mais consegue jogar uma latinha no lixo comum. Nem minha filha. Ela também joga o lixo reciclável num saquinho! É só deixar um saquinho ao lado do fogão ou da pia e ir jogando lá como se fosse o lixo comum. Então, fica muito simples separar. É somente uma questão de hábito", comenta a artista plástica Elisa Costa. Casa amiga da natureza A casa dos sonhos de qualquer um fica num condomínio a 23 quilômetros do Centro de São Paulo, com conforto, tranqüilidade e um monte de bombas, canos, mangueiras, que não se espera ver em construções desse tipo. "No Brasil, existe o hábito de se construir como no tempo do descobrimento, com concreto, madeira, pedra, telha e tijolo. E eu não me conformei que seria essa a solução, achei que deveria fazer alguma coisa mais moderna e mais adequada aos dias de hoje", justifica o físico Armando Pucci. Inquietações da profissão? Físico não tem nada a ver com arquitetura ou construção. Mas é dele o projeto, resultado de um ano inteiro de pesquisas para fazer da casa da sua família uma residência amiga do meio ambiente. Ao longo do telhado, um sistema de calhas coleta a água da chuva. Dá para guardar até 11 mil litros nas duas cisternas. Assim, a água tratada – que é paga e custa caro – não é desperdiçada para regar o jardim, limpar os banheiros, lavar roupas e calçadas. "Considerando seis litros por cada descarga no vaso sanitário, eu tenho quase um ano de água estocada para isso", calcula Armando. O telhado também exibe coletores de energia solar – um para aquecer a água, outro para movimentar a bomba, que faz essa água circular pela casa. "Com a água já aquecida, eu posso ter quatro dias de céu nublado, sem sol, que continuo a ter banho quente garantido", diz Armando. Nas janelas, vidros com painel duplo garantem isolamento acústico e conforto térmico, para dispensar o ar-condicionado. Só de água, Armando já consegue economizar 30%. São 40% a menos na conta de luz. Mas ele acha que o principal incentivo ainda é aquela sensação gostosa de fazer – direitinho – a lição de casa. "Aliás, eu não jogo pó de café nem óleo de cozinha no esgoto. Eu descarto o óleo de cozinha numa embalagem especial, que vai para a reciclagem. A borra de café é utilizada na horta. É gostoso ver um pezinho de alface crescer com o subproduto orgânico daquilo que você jogaria fora. São pequenas coisas, mas se todo mundo fizer alguma delas, a probabilidade de termos escassez ou dificuldade de obter recursos naturais é muito menor. O grande problema é que a gente se sente sozinho. Por que eu vou fazer se mais ninguém faz?", diz Armando. Aos poucos, Armando vai perceber que não está mais assim tão sozinho. Muitas pessoas despertam, cada vez mais, para a necessidade de mudar os hábitos – abandonar a tradição para dar lugar a uma série de novidades, que podem ter demorado, mas estão anunciando que o futuro já chegou. Um canteiro de obras logo não será mais novidade. O edifício, com 144 apartamentos, vai ter aquecimento solar e tubulação planejada para reciclar toda a água dos banheiros. "A água do chuveiro é tratada junto com a água do lavatório. A água vai para o tanque de reuso, é tratada e volta para uma caixa d'água no pavimento superior. Em seguida, é utilizada para dar descarga", explica o diretor de construção, Giorgio Vanossi. A idéia é economizar 35% do consumo de água e muito na conta do gás, porque o aquecedor será usado apenas quando faltar sol durante muito tempo. Em cada apartamento, 60 metros quadrados contemplam banheiro, dois quartos e sala integrada à cozinha. Um jeito novo de morar e de construir. "Antigamente,